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sexta-feira, 28 de março de 2014

UM DIA DE CÃO EM LUANDA - CRÓNICA DE UM POBRE FRICCIONAL! (Publicado no Facebook)

Não sou cronista da escaleca do Salas Neto que bem sabe cozinhar “porralhadas" com muito bom molho de humor quando fica aqui a falar de mambos da batida dos Bacalhauistas (Não sei se é um comité de especialidade que criaram para entrar no M) que só dão água na boca e me fazem sentir um desfavorecido social e nem tenho aquela boa pinta do Celso Malavoloneke com a qual consegue buscar gargalhadas refinadas mesmo irritando uma fileira de facebookianos que só lhe esgravatam defeitos. Mas hoje aconteceu uma cena que me obriga a escrever essas linhas em jeito de desabafo. Chamem o que quiserem, mas não é um comentário de análise jurídica. É que passei toda a manhã (e grande parte da tarde) a aturar uma infindável bicha numa das agências do BPC (não vale apena falar do local senão vão já dizer que eu tenho inveja do gerente que é afinal um destacado militante do partido e com carreira promissora no sistema bancário nacional ou coisa assim). A minha dama sabe que eu não nasci para curtir bichas e burocracias. E sempre que posso me esquivo delas (claro sem subornos ou gasosas). Me esquivo chegando cedo ao local ou aderindo a serviços personalizados tipo esses ai de fazer consulta via net ou usar multicaixa. Mas hoje me deram uma boa kunga. E aturei por dois motivos: fiquei sem multicaixa do Banco BIC (engoliram-me o cartão há dias, logo num sábado – já estava caducado e eu nem percebi – tentei tratar um novo nos dias seguintes e o baile era assim: quando fosse a agencia e tivesse multicaixa para tratar não havia sistema – lá estava sempre uma funcionária simpática a dizer vá a próxima agencia por favor – e quando tivesse sistema não havia multicaixa. Quem levou esse baile mete gosto! E eu como gosto de desafio girei quase todas as agencias da região sul de Luanda e de todas aquelas aonde pudesse chegar usando a via expressa e nada. Então fui mesmo directo a agencia sede (ou chefe) ai nas bandas do Talatona (eu já: se não me atendem pelo menos tiro satisfação junto da direcção do banco). Rabujei já no uso das minhas manias de cidadão grávido de direitos humanos e lá a senhora também simpática rendeu-se: não temos cartões disponíveis! E o segundo motivo para aguentar o BPC foi que hoje é sexta-feira. Já viram um gajo sem cartão multicaixa e sem kumbu? Pronto nem é novidade para ninguém. Lá então aguentei, aguentei, aguentei, aguentei….os funcionários então (uns com cara para serem aposentados) dificultavam tudo. Aliás, só o BPC é que utiliza velhos nos seus balcões. Não sei qual é o trato que têm com o Ministério dos Antigos Combatentes ou com o Ministério da Reinserção Social. Não me meto na vida do seu conselho de administração, mas esse velhos lixam tudo. Trabalham um bocado e passam mais uns bons bocadão a atender telefonemas numa conversa sem utilidade institucional e depois facilitam um individuo que se esgueira fora da bicha e o filme todo é aquela malandrice do tempo do mono em que os tipos que ficavam a controlar a bicha ou a atender o povo nela apinhado se sentiam importantes nesse momento ao ponto de rezarem para a bicha não acabar porque assim também acabava a importância que tinham. Lá aguentei mesmo (também já não tinha como não aguentar pelos motivos que já disse). Depois de mais de 5 horas quando já ia sendo atendido la vem a senhora do balcão no seu ar preguiçoso a gritar: “ O sistema foi!” . Eu: “Figurão! Só faltava essa!”. Estava selado o destino desse fim-de-semana. Mais uma temporada sem kumbu e aí um gajo já conhece a fita toda. Um gajo vira POBRE FRICCIONAL (não sei se há esse conceito nas ciências económicas) porque um gajo tem dinheiro no banco mas ao longo do fim de semana pode morrer de uma kabualala ( diarreia agressiva) por falta de kumbu para comprar medicamentos ou mesmo de fome. Pelo que vejo essa pobreza friccional só acontece mesmo aqui na banda. E até generais não se safam. E então eu já rebentado de cansaço e frustração sai para fora da agência. Não é que o guarda que me viu a rabujar me chamou para uma conversa de caxexe? “kota” disse o gajo “espera só um pouco”. E eu: “Espero como, se já não há sistema?!”. Ele: “fala baixo kota!”. E lá o tipo esculpido por uma magreza impressionante que lhe retira todo o estatuto de um guarda para instituições financeiras abriu-me o jogo. Afinal o sistema não foi. O tal sistema que não sei se era pessoa ou quê que só passa a vida a lixar um gajo e que até já migrou para muitos locais: lojas de recarga de telefone, supermercados, multicaixas, etc., não tinha bazado. Foi só um truque para não gastarem todo o dinheiro que tinham para os clientes. Deixaram o kumbu para atender os clientes dos esquemas. “É só o kota largar uma gasosa…”. E eu que vim raspar a conta a ponto de não ter mais nada para gasosas? É que o próprio kumbu já era uma miséria. Já viram? Se o meu kamba aqui do facebook (um tal de Kassinda) do Comité de Especialidade dos Fala-A-Toa souber já desse post até já sei o que é que vai sair da boca dele: “ Você ta sempre contra o RUMO CERTO que estamos a seguir. Se não gostas da paz que o MPLA trouxe em Angola a custa de muitos desenhos e esboços do grande Arquitecto que herdou o dom do nosso Guia Imortal porque é que não bazas daqui?” Até o gajo teria razão se eu pudesse interrogar Deus e obter uma resposta firme disso: “Porque é que com tantos países bons para um gajo nascer tinha que ser logo aqui onde ao que parece só os kulambistas, fanáticos e boelos crónicos encontram sossego e felicidade?”. Resultado no fim do dia: sem kumbu, mesmo tendo kumbu (mesmo que seja só um pouco é claro!).